
Mas não pense você que a abelha era uma abelha comum. Não, a abelha da cozinha de Virgínia possuía "estranhas" propriedades. Era uma abelha mágica! Dadeira de dádivas, ouvideira de desejos. E como ela dava e ouvia!
A abelha da cozinha de Virgínia gostava de ouvir as coisas que até Deus duvida; era mestra em realizar os desejos impossíveis. Aliás, quanto mais impossíveis eles fossem, mais ela se esmerava em torná-los fáceis e banais. Mas não pense você que ela dava tudo isso de mão beijada. Para tanto era preciso seguir algumas recomendações. A primeira, e talvez a mais importante, era imaginar coisas que corassem e dilacerassem as convicções. Ah, essa era tão difícil como encontrá-la em meio as tralhas da cozinha! Com um pouco de imaginação corava-se de pronto, mas dilacerar as convicções... era osso duro de roer! Mas quando a tarefa era cumprida, não havia jeito de voltar atrás. A danada cumpria a palavra!
Depois, a danada sumia deixando no ar um zumbido e a impressão de que tudo não passara de um sonho. E era nessa hora que entrava em cena a magia: Virgínia retirava do forno um enorme pão de alecrim com formato de abelha."A Rainha", como ela mesma dizia! O comíamos à meia-noite do dia 24 de dezembro, regado com muito vinho e manteiga de nata. Virgínia nos pedia entâo para reservarmos o último naco e o guardássemos para a massa do pão do natal seguinte. "Coisas de Portugal", como ela mesma dizia.
Não sei se pela magia da abelha ou pelo tempero de mel, o ano transcorria regado ao doce aroma de uma colméia escondida num pé de alecrim...
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