segunda-feira, 20 de julho de 2009

Amora & Amores


Foi por puro acaso que Amora descobriu seus dons para o amor. À época ainda era verde, sem suco, sem coloração perfeita, mas já exibia as protuberâncias arredondadas que provocam água na boca dos meninos. Sem suco e sem o vermelho que tatua nódoas no corpo e no coração dos amantes, se valeu do perfume e da maciez da casca. Seduziu o menino que sentava na terceira fileira da sala, exatamente na segunda carteira à direita. No ângulo certo da visão do seu redondo joelho.

Não sei se pelo perfume ou pelas curvas carnudas de um círculo que se estendia em coxa, Amora seduziu o seu primeiro amor. “Sedução geométrica”, disseram as amigas enciumadas. “Primeiro fruto!”, exultou a avó enquanto podava e preparava a terra de um enorme pé de amora que se enroscava na cerca do jardim.

Talvez pelos espinhos ou pelos galhos que de tão enroscados sufocavam a cerca, o amor de Amora não durou muito tempo. Terminou por desavença geométrica e deslocamento físico: estendido numa reta que não se encaixava no círculo do seu joelho, o menino simplesmente mudou-se para uma outra cidade. O rompimento causou dores, mas não abalou o perfume nem as curvas da fruta e Amora permaneceu disponível em seu galho. Podada e aguada nas luas certas, em pouco tempo descobriu-se madura, suculenta, pronta para ser colhida.

Seguindo a lógica quântica da natureza, Amora se fez verde, de vez e madura por infinitas vezes. Foi colhida por mãos que se perderam em suas protuberâncias curvilíneas e derramou líquidos em bocas que suspiravam em prazer.

Depois de muitas luas descobriu o seu próprio segredo e resolveu revelá-lo: abriu uma pequena loja especializada em amoras. E lá, entre geléias, tortas, balas, bombons, licores e amoras frescas, Amora revelou-se perita em amores... O endereço da loja? Ah, esse fica por conta da geometria das mulheres.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Dando um Help para Deus


Quando Deus nos deu a vida, também nos deu a liberdade de darmos vida. Simone, e muitos outros, está precisando de nós. A doação não dói. Vamos doar e espalhar na Net o pedido? Deus certamente nos agradecerá por isso...
Obs: a Simone está no meu facebook . Que tal uma prosinha com ela? Ela é um doce!!!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Luiza & Mary Stuart

Durante a velhice, Luiza preparou-se para uma outra vida, em que seria rainha ou, na pior das hipóteses, princesa. Embora não tivesse nem mesmo um remoto laço genealógico com Mary Stuart, agia como se lhe fosse próxima. Não sei se por uma ser da Escócia e a outra do Estácio, as duas eram muito parecidas. Mary Stuart não ficou redonda como Luiza, mas em compensação não escutou as rodas de samba do Estácio. Mary Stuart nasceu rainha. Luiza nasceu para ser rainha numa outra vida. Apesar das pequenas diferenças, eram irritantemente parecidas. Mary amava as golas, Luiza as detestava. Mary arrastava saias negras pelos aposentos do palácio; Luiza, pelos becos do Estácio. Mary caçava raposas com cachorros; Luiza caçava as dezenas do cachorro. Mary guardava doces numa caixinha de prata; Luiza, numa lata. Mary reinava em nome de Cristo, Luiza tinha um Cristo que reinava na parede da sala. Mary dividia a coroa com a prima; Luiza, uma parca aposentadoria. Mary casou com um rei; Luiza, com um operário. Mary sentava-se num trono; Luiza, numa cadeira Chipendale. Mary era Stuart, Luiza, Correa.
Quando se encontrou com a morte, Luiza pediu-lhe que não a fizesse rainha. Preferiu uma cama, pois estava muito cansada...



obs: texto extraído do meu livro Amor se Faz na Cozinha, publicado pela Editora Bertrand

Chet

Chet

Home Sweet Home

Home Sweet Home
Que buraco é esse que me faz comer a geladeira?

Livros & Livrarias

Livros & Livrarias
Livrarias são janelas. Livros olham o mundo.Livrarias libertam. Livros revolucionam.

Senhoras do Santíssimo Feminino

Senhoras do Santíssimo Feminino
O poder sagrado Delas.

A Pergunta de Lacan

A Pergunta de Lacan
O mistério do gozo das mulheres

Afrodite & Panelas

Afrodite & Panelas
E no princípio era a GULA...

A Casa

A Casa
O mundo olha pelas nossas janelas...

Um Lance de Dados

Um Lance de Dados
Jamais abolirá o acaso

O Caldeirão

O Caldeirão
Ele não está no final do arco-íris

Armário e Gavetas

Armário e Gavetas
O que será que eles revelam?

Minha Cozinha

Minha Cozinha
Onde tudo começou.

Meus Segredos

Meus Segredos
Laços e refogados culinários

Nossas Luas

Nossas Luas
E são treze...

Seduções & Devaneios

Seduções & Devaneios
Eu o escreveria mil vezes!

Guadalupe, a Santíssima Mestiça

Guadalupe, a Santíssima Mestiça
Como amei descrevê-la!

Amor e Cozinha

Amor e Cozinha
Foi uma delícia escrevê-lo!