quinta-feira, 27 de março de 2008

A Morte no Khol dos Olhos das Meninas



Os olhos do deserto já não refletem a noite no khol dos olhos das meninas, nem desaguam líquidos no oásis das beduínas. O deserto enviuvou, secou como a vagina da Medusa a menstruar sangue dos soldados, Cristos dependurados, corpos açoitados . Os olhos do deserto foram furados pela lança do cowboy de Édipo, pelo falo de um deus camelô, cheirado e embriagado, a vender armamentos de guerra e ações de petróleo pela TV . Vai levar, freguês? APROVEITA QUE É HOJE SÓ! Mísseis a preço de ocasião. Compra um e leva de brinde um canhão! Os olhos do deserto se esconderam aterrados em buracos. Olhos à procura da Mãe . Querem voltar pra casa. Querem o khol, o carmim e a vulva. Querem a brisa morna das noites dos jardins da Babilônia, o calor dos seios da amada Ishtar. Exaustos, acuados, torturados, órfãos de Nabucodonosor, os olhos não querem mais o sangue viscoso do negror das florestas petrificadas em óleo.

Os olhos do deserto não querem fumaça a cegar os olhos das mesquitas, nem morte a gelar a carne das suas meninas. Querem olhar outra vez o sêmen do pênis do Eufrates a engravidar as tamareiras. Querem as fitas, os rodopios, os véus e as verduras e frutas das mulheres do mercado. Querem de volta o cio e a ternura do sândalo e das especiarias. Querem recontar estrelas e reinventar uma nova matemática. Os olhos do deserto não querem mirar a imagem dos seus filhos mutilados em fotografias. Ao deserto basta somente mirar a Lua e parir caminhos nas estrelas...

5 comentários:

Caê Guimarães disse...

Uma cimitarra afiada.....adorei....grande é este poema, grandes são os desertos, minha alma.

JC Duarte disse...

Dos melhores libelos contra a guerra que tenho lido nos últimos tempos.
Obrigado!

Natália Bravo disse...

É extraordinário, com galgaste as léguas que te separam deste páis e descobres um blog de uma professora portuguesa que, à beira de um ataque de nervos, resolveu iniciar a contagem decrescente para o dia VLD (Vou Livrar-me D'isto).
É extraordinário o teu poema.
Um abraço e a certeza do tanto mar, tanto mar, não ser, afinal, tanto assim...

SSMartinelli disse...

Simplesmente divino.
Gostaria de pedir sua autorização para reproduzi-lo em me blog http://ventreemebulicao.blogspirit.com/

Um grande beijo e sucesso.

cristina teixeira disse...

Há tantos sons e cheiros e tanto de tantas . Provocações..

Chet

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Que buraco é esse que me faz comer a geladeira?

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Livrarias são janelas. Livros olham o mundo.Livrarias libertam. Livros revolucionam.

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Como amei descrevê-la!

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Foi uma delícia escrevê-lo!