Vitalina não gostava de esclarecimentos. Fugia deles como o diabo foge da cruz. E se por acaso não conseguisse fugir, inventava uma melodia e tampava os ouvidos. Os esclarecimentos eram irmãos das desculpas e filhos das mentiras. Faziam parte da família que ela dizia ter se formado "no rabo do canhoto". Achava chato ouvir cantilenas explicativas. "O mundo não se explica", dizia ela com cara de enfado. Para Vitalina os argumentos não eram bem vistos, dizia que era coisa de janota e de gente que não sabe se queimar ao sol. Gostava das palavras. Das verdadeiras. Dizia que eram laranjas que escorriam o caldo sem se precisar espremer. Ah, como Vitalina amava as palavras. Amava tanto, mas tanto mesmo, que acabou cismando que elas tinham um nome e uma alma. Eram almadas, sagradas, santificadas. Brincava com as letras sem nem mesmo saber escrevê-las. E se encontrasse um outro mastigador de palavras, palavreava, palavreava e palavreava. Não explicava nada. Não aceitava explicações. Amava as palavras e nelas acreditava. Talvez este amor pelas letras e pelo som das palavras, fizeram com que ela se recusasse a escrevê-las. Acreditava nelas, e só isso bastava.
quarta-feira, 5 de março de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
......LI SEU LIVRO ONDE VC. DESCREVE VITALINA NOS MÍNIMOS DETALHES, CHEGUEI A VÊ-LA, COM SEUS SANTOS, QUADROS E CONTAS, ACHEI MARAVILHOSO, VC. É UM GÊNIO, ESCREVE DE UMA MANEIRA TÃO SIMPLES E INTELIGENTE QUE A GENTE PASSA A FAZER PARTE DA SUA HISTÓRIA, PASSEI A SEGUIR ALGUMAS COISAS QUE VC. ESCREVEU LÁ, FIQUE COM OS DEUSES E QUE ELES SEMPRE TE ABENÇOEM......
Postar um comentário