quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sorvete, Jóias & Freud

Aos sábados, pela manhã, Nazair me levava para tomar sorvete na Colombo. Depois, empanzinada de caramelos, calda de morango, cobertura de chocolate, marshmellow coroado por rubra cereja, eu a seguia pelas vielas estreitas do centro da cidade num cortejo bizarro de experimentações de chapéus cujas plumas me provocavam espirros, vestidos negros de lantejouladas transparências, sapatos suspensos por agulhas que quase alcançavam o céu. A cidade era então um mistério acetinado, um enorme rolo de tecido prestes a rolar do balcão e cobrir a gigantesca Avenida Rio Branco, que por sua vez não era um rio nem era branca.
A peregrinação se aproximava da hora do a qualquer momento quando Nazair gentilmente, com a característica desplicência dos ricos de bolso e espírito, empurrava uma transparente porta de vidro decorada por floreados e letras douradas. Nessa hora meus olhos ardiam como se mirassem o sol, um sol travestido de diamantes, esmeraldas, trançados de fios de ouro e platina que lânguidamente penetravam pelos dedos, punhos, colo e orelhas de Nazair. Mesmo sem ter a mínima idéia do que era sexo, rotulei-o como uma porta de cristal aberta para lânguidíssimos movimentos de gemas. Sexo era isso e ponto final.
Alheia as minhas conjeturas eróticas, Nazair escolhia algumas jóias que ritualísticamente eram colocadas em caixas de couro negro estofadas com cetim. As jóias eram cadáveres de belas adormecidas em ataúdes escuros, à espera de um beijo. Morte e sexo se trançavam num mesmo nó, num instante de gozo e desfalecimento, numa porta que se abria para uma caixa que se fechava. E eu ainda nem tinha lido Freud...



Se você quiser conhecer um pouco mais de Nazair, dê uma lida em meu livro, Guadalupe e as Bruxas, publicado pela Editora Planeta.

5 comentários:

Lisa Magalhães disse...

Nossa, que vontade de tomar sorvete que me deu ler este trecho do livro!

Quero que convidar para escrever na minha 'revistinha'...

Beijos dona Bruxonilda... saudades de falar contigo!

Simone disse...

Muito retrô! Muito folhetim!

CLAUDIA LIMA disse...

Oi, Marcia!Gostaria que você me explicasse: pentagrama é estrela de Davi ou de Salomão? Bjus, Claudia.

Eleonora Marino Duarte disse...

...Márcia...

eu gosto de Nazir!

tenho o livro
e o releio, assim como releio os outros, para consultar coisas que são importantes para o corpo ou para o espírito.

foi bom ler o trecho outra vez.

um beijo.

Unknown disse...

Pentagrama é a estrela de cinco pontas. A estrela da linhagem de David tem 6 pontas. Beijos

Chet

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Que buraco é esse que me faz comer a geladeira?

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Foi uma delícia escrevê-lo!