Dessa vez a campainha não afundou no mar da insistência pregado um pouco abaixo do umbral da porta. Muda, sem ousar uma só nota, anunciou minha chegada no apartamento vazio. Nenhum som se fez na sala. Nenhuma tosse apontou a velha asma. Nenhuma estrela cintilou em olhos úmidos, curiosos, sombreados pela névoa da idade. O tempo parara equilibrado na tênue teia de aranha que pendia de um dos cantos do teto. Mas o apartamento não tinha teto, nem chão nem paredes... Só portas e vazio.
Entrei pela porta que outrora ligava ao quarto e não havia quarto. Contei dez passos e entrei pela porta que antes ligava ao banheiro e não havia banheiro, nem pia nem água. Onde eu estava? Em que dimensão ela se escondera? Em que vão eu me perdera?
Se ao menos ela tivese deixado um bilhete, um recibo de alguma viagem comprada ou só um recado seco indicando uma ida ao supermercado... Se ao menos ela tivesse deixado uma torneira aberta, uma panela no fogo, uma peça de roupa no varal... Se ao menos o telefone tocasse... Mas não, não encontrei bilhete, nem panela, nem recado, nem roupa no varal. O apartamento se equilibrava no vazio como uma teia de aranha capenga cheia de portas que não ligavam a nenhum lugar...
Se ao menos ela tivesse levado uma mala...
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
As vezes nos meus piores pesadelos já me imaginei nessa situação descrita por você,e sempre acordo agoniado.Essa sensação vivida deve ser terrivelmente estranha e vazia...
Peço que as Deusas e Deuses te tragam boas sensações depois do Beltane.Feliz Beltane pra ti!
SEM PALAVRAS PRA DESCREVER A SENSAÇÃO Q TIVE AO LER SEU MARAVILHOSO RELATO...
LEMBREI... CHOREI... ENFIM... ME EMOCIONEI...
OBRIGADA POR COMPARTILHAR...
BJOS DE LUZ...
MÔNICA CHAVES
Para mim, que vejo a morte de outra forma, é tão estranho ver-te assim, tão agoniada! Abra tu mão, sopre um ADEUS! Deixe-a partir! Não faças isso com ela, permita que parta!Liberte-a! Para que um dia ela volte à ti!
Postar um comentário