sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tubinhos, Traças & Chaves


Cadê meu velho armário?
Em quais cabides
se esconderam os tubinhos,
as kilts inglesas
e os conjuntos de cashemere?
Cadê os sapatinhos baixos,
cavados até o dedão?
Cadê as tardes de sábado
e vitrola suitcase
preparada para a festa?
Cadê a festa?Quem apagou a luz
e chamou o síndico?
Cadê Billie que não canta,
Chet que não sola,
João Gilberto que não namora
e Elvis que não rebola?
Em qual buraco se meteu
a dor trágica dos amores
sempre não correspondidos?
Em qual vácuo do ar
se dissipou o pinho silvestre
do cheiro dos meninos?
Cadê o coração que não dispara,
a voz que não defunta a garganta
e a boca que não molha?
Chaves trancaram o armário
e no centro do quarto vazio
um espelho em viuvez
reflete um bau de lembranças...
roídas pelas traças.
Obs: se você gostou, dá uma lida em meu livro O Feitiço da Lua, publicado pela Editora Bertrand. Aposto que você gostará.

3 comentários:

Eliana BR disse...

Marcia, querida,
Eu era da turma que na podia ter conjuntinhos de cashemire nem os maravilhosos sapatinhos cavados ( era da turma que lambia as vitrines). Muito menos kilts inglesas, so de ver no Jornal do Brasil. Mas vestido tubinho todo mundo podia ter. E terninho, de saia tive alguns, de calça comprida so um ( como era dificil cortar blazer e calça comprida!!!) Na turma da rua a vitrola nao parava nem sexta nem sabado. E as vezes a mesma vitrola tinha de viajar nos ombros dos "meninos" pois nem todo mundo tinha vitrola ( la em casa, por exemplo, nao tinha) mas chao todo mundo tinha... e dançar sexta, sabado e domingo era quase obrigatorio. Era obrigatorio. Domingo era a domingueira no clube.
Billie e Chet so conheci muito depois. Nossos convidados eram os italianos, Pepino di Capri na primeira fila e dos Esteites vinha em primeiro lugar Nat "King" Cole. E os Romanticos de Cuba e Ray Connif e Metais em Brasa. E havia umas orquestras ao vivo que punham todo mundo louco e serviam de objeto de castigo pra muita mae: orquestra Tabajaras, Severino ...Araujo? e Ed Lincoln e Waldir ... ( esqueci o sobrenome desses magicos). E o Castillo de Sevilla, que nos adoravamos.
Pois é, amiga, acho que vivemos um mesmo tempo em lugares sociais diferentes. Ambos muito divertidos. Aproveitamos muito, de um lado e do outro. E o cheiro do Pinho Silveste, esse, atravessava a baia de Guanabara pra se fixar na memoria de toda uma geraçao.
Bises,
Eliana
cadernodeparis.blogspot.com

Unknown disse...

Márcia internauta psy, recebo sempre com carinho suas mensagens. Não pude faltar a este post que 'é normal, não faz mal, e não engorda' (chistes que rolavam neste tempo). Aliás a gente nem sabia que engordar seria um crime social,midiático.
Nada a acrescentar a tão lindo poema real.Com pequenas diferenças, afinal cada qual em uma cidade, vivemos sim tudo isto...
Noeliza

Anna Carla Lourenço do Amaral disse...

Adoro esse figurino, esse cabelos...as vezes acho que nasci na epoca errada!

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