domingo, 29 de novembro de 2009

Portugal, o Baú & Virgínia

Quando chegou ao Brasil, Virgínia guardou Portugal dentro de um enorme baú de madeira. Cobriu-o com um lenço florido e franjado. Ali a Lusitânia ficava quieta, esperando que Virgínia o abrisse quando sentisse saudades. A princípio o baú era aberto umas três vezes ao dia. Virgínia descalçava os sapatos, sentava na borda e enfiava os pés nas toalhas, fronhas, lençóis e álbuns de fotografias do Rio Dão. Alheio às estranhas águas, o rio rolava seixos por entre os dedos da rapariga que um dia conhecera em Mangualde. Nessas horas, Virgínia chorava. As lágrimas molhavam as roupas do oceano que margeava Lisboa. Subitamente os seixos secavam para que ela e Amália Rodrigues subissem a Rua do Capelão. Subiam cantando como só as portuguesas cantam. Portugal nessas horas também chorava. Pegava uma guitarra esquecida no fundo do baú e desenhava notas num fado. Não sei se por fado ou destino, Virgínia um dia mergulhou no Dão e nunca mais retornou. O baú continua no mesmo lugar, fechado, cerrado, dolorido como o fado. A chave? Virgínia a levou com ela...



Trecho extraído do meu livro, Amor se Faz na Cozinha, publicado pela Editora Bertrand.

3 comentários:

Eross Wertt disse...

Adquiri O gozo das feiticeiras na Estrela dos Magos, que mudou de um Largo pra um shopping à beira-mar. Largo onde já vi dança do ventre e mesas de frutas em torno da fogueira de Beltane. O seu livro somou muito, me acrescentou o fato de que a Arte é feita de vivências, não só de tábuas astrológicas, de correlações, de livros de feitiços e encantos, de magia ritual, enfim, devemos botar vida em tudo que fazemos.
Também já li, emprestado da minha irmã, A cozinha da Bruxa, e amei. Me influenciou muito, e me ajudou a atravessar as adversidades do curso de Gastronomia, lembrando que embora não tivesse muitos amigos na sala, tinha outros muito sábios que me ensinavam no dia a dia: frutas, legumes, verduras, fogões, fornos, travessas, panelas.
Tentei pegar emprestado com uma amiga rosacruz e wicca alguns de seus livros seus, mas ela trata por verdadeiros tesouros, e naõ os deixou sair da casa dela. Ela tinha 3 livros seus que não li: Manual mágico do Amor, A cozinha de Afrodite, o terceiro esqueci o nome (hehehe). Só achei pra vender, mas acabou logo, tiragem pequena, e qd chega aqui sai logo, O caldeirão da prosperidade e A cozinha mágica de Márcia Frazão nas livrarias.
Pq não disponibiliza uma versão parcial, no google livros, pros bruxos menos abastados, como eu, poder ler pelo menos um pedaço?

Eross Wertt disse...

Errei, é Panela de Afrodite kkk
E o otro livro, que não lembrava era O feitiço da lua.
Já quis comprar Guadalupe e as Bruxas, qd trampava pra Prefeitura, pra dar pra minha vó, que é muito devota dos santos (é católica), mas minha mãe achou que ela podia não entender a proposta...
Mostrei esses dias o das Senhoras no seu blog, pra mama, e redescobri essa tradição santéra (si, além dos católicos, na Santéria, Umbanda e até no Vodu, pelo sincretismo com os Loas, se trabalha com Santos), através das citações no blog da Pietra do trabalho da Maglioco, que na vdd aponta para o costume das beate donnete na Itália (nossas beatas daqui), conhecido como benedicaria (a mesma prática de nossas benzedeiras). Enfim, embora tradicionalistas não aceitem a visão dessa antropóloga, como o Grimassi, que dizem que a verdadeira bruxaria é iniciática, e secreta, e não tem nada a ver com a magia vernacular católica, sem dúvida é um legado cultural importantíssimo dos nossos antepassados, que vieram trabalhar nas lavouras aqui, e faz parte sim, do folclore. A Magliocco denfende isso pq além de antropóloga é folclorista, né.

Eross Wertt disse...

A Maglioco defende que a Stregheria do Grimassi é neopaganismo (uma forma de reconstrucionismo do paganismo italiano, com influências da religião romana, porque diz que o cristianismo é muito forte, e desde sua promulgação por Constantino sempre foi a religião oficial da Itália), enquanto ele diz que se manteve através da linhagem desde os tempos ancestrais. A Maglioco defende que a Stregheria vem na vdd da magia vernacular católica, tendo raízes no cristianismo, enquanto o Grimassi embora reconheça que isso existe na Itália, é uma tradição mais recente, não sendo a antiga e venerável Fé Sábia. Creio que isso ocorreu como com os escravos aqui no Brasil, que sincretizaram os orixás com os santos, pra manter sua fé em segredo. Lá as famílias sincretizaram com os santos, os deuses antigos. Mas assim como hoje existe o candomblé com o culto só aos orixás, e a umbanda, com o culto sincrético, lá há as famílias que resgatam o culto aos antigos, e as famílias que esqueceram esse culto, pq se acostumaram a venerá-los como santos, e hoje só veneram os santos, msm, esquecendo sua origem, pq tiveram que se converter ao cristianismo, ou mesclar as crenças, por segurança (pra se preservar da ação de fanáticos).
As tais rezas secretas, ou rezas fortes que a Magliocco diz serem passadas secretamente de pai pra filho, sabemos bem que não é assim, tão secreta, pq hoje vemos essas rezas publicadas nos classificados, e também os famosos santinhos que se contrata impressão do milheiro às gráficas e se distribuem nas portas das Igrejas.

Chet

Chet

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Que buraco é esse que me faz comer a geladeira?

Livros & Livrarias

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Livrarias são janelas. Livros olham o mundo.Livrarias libertam. Livros revolucionam.

Senhoras do Santíssimo Feminino

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O poder sagrado Delas.

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O mistério do gozo das mulheres

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E no princípio era a GULA...

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O mundo olha pelas nossas janelas...

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Ele não está no final do arco-íris

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Eu o escreveria mil vezes!

Guadalupe, a Santíssima Mestiça

Guadalupe, a Santíssima Mestiça
Como amei descrevê-la!

Amor e Cozinha

Amor e Cozinha
Foi uma delícia escrevê-lo!