de barro.
Lama que babava em dedos
enfiados,
escorregados numa trilha
de vacas e bois.
Cheiro de terra, estrume
e água.
No fundo do precipício, um rio
plácido, musguento,
sonolento de piabas.
Um rio pote
de sucuris douradas.
Sem começo nem fim,
sem vazio nem cheio.
Lá no fim onde canoas
boiavam estacionadas
aprendi a nadar canina,
quase afogada.
Do fundo da água pesada
em meio a bolhas
galhos
cipós
e areia
o rio se disse chamar Poty.
Ouvi, por ti.
Ouvi, por ti.
E por mim Poty se fez meu
como um dia se fez para o Piauí
e para a sucuri que quase me comeu.
obs: esta história é verdadeira. Passei minha infância no Piauí, em Teresina, numa fazenda chamada Primavera. O Poty a atravessava. Majestoso ele caçoava da majestade da nossa casa empoleirada no cocoroco de um monte. De lá de baixo ele nos observava. Soberbo, matreiro, silencioso, ronronante como um tigre de Bengala. Para chegar até ele eu cruzava o jardim e descia por uma trilha de barro que dava num platô onde ficava a vacaria. Depois de ver Esperança, minha zebu mosquenta, era só descer mais um pouco e, lá na beira, ele me recebia rindo da minha figura bizarra,vestida num maiô com um ridículo babadinho. Levou algum tempo para que travássemos amizade, mas no fim, depois de me salvar de um afogamento (a sucuri fica por conta da minha fértil imaginação), ficamos amigos até debaixo d'água. E como amigo a gente não abandona nas horas difíceis (nem prazerosas), peço a todos que olhem para o Poty, para o Piauí e para aquela gente bonita que lá mora e os ajudem.
obs²: na foto estou eu, tia Nazir segurando meu primo, Carlos Augusto Vinhais, tia Nazair abraçando a mim e a Guilherme Cavalcante de Mello, meu primo. Não éramos bonitinhos? Ah, a foto foi tirada na fazenda Primavera.
2 comentários:
Bom ter te encontrado in blog! Tudo hiper interessante e agradável: muito bom te ler! parabéns pelo trabalho!
Grande energia tem seu blog, muito bom!
Um forte abraço!
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