domingo, 1 de março de 2009

Jorginho Guinle & Eu


Se há uma coisa que sempre me aborreceu nas histórias de fadas, é sem sombra de dúvida o papel secundário e enfadonho dos príncipes. Você já reparou que eles só aparecem no final da história? Já reparou como eles são bobões e arrumadinhos? E o beijo, então!? Você já viu beijo mais sem graça do que o do príncipe de história de fada?
Não sei se por um precoce pendor feminista, ou pela desilusão do primeiro beijo, eliminei da minha vida todo e qualquer príncipe até o dia em que conheci Jorginho Guinle.
Bem verdade que ele não combinava em nada com a descrição que os livros faziam dos príncipes. Não era alto, esbelto, estúpido, bem-comportado e nunca fora um sapo. Não era chegado a princezinhas igualmente estúpidas e choronas - daquelas tipo Branca de Neve e Cinderela -, que às custas de uma carinha de anjo e de alguns artifícios dignos da histeria freudiana estavam mesmo era à espera de um marido que as bancasse. Não, Jorginho. Se ele tivesse tido a oportunidade de conhecê-las, certamente teria romances com as madrastas. Dificilmente ele sucumbiria aos encantos cor-de-rosa de uma mocinha sonsa, estupidamente burra e sem graça como a Branca de Neve (essa, ele preferiu deixar para um príncipe inglês com cara de vela e cérebro guardado na gaveta da mãe).
E se Jorginho tivesse tido um caso com a madrasta, certamente o final da história seria outro. Aquele reino insosso teria ganho vida, glamour e sensualidade. Branca de Neve certamente seria banida para um condomínio medíocre, onde passaria as tardes assistindo aos filmes açucarados de Doris Day. O príncipe idiota venderia enceradeiras e passaria os domingos em frente à TV, entupindo-se de cerveja e sonhando com uma loura a entrar pelo buraquinho de uma garrafa.
No reino de Jorginho e da madrasta se ouviria jazz e bossa nova e a tv só seria ligada se houvesse alguma coisa que valesse a pena assistir. Em vez das novelas bobocas que arrancavam os suspiros da Branca de Neve, o povo teria o teatro. As peças de Ibsen, Brecht e Eurípides teriam muito mais audiência do que o Big Brother. Em vez da poética fuleira das éguinhas pocotó, o povo beberia as palavras de Noel Rosa, Chico Buarque, Caetano, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Gil, Cartola, Nélson Cavaquinho, Cole Porter e de um milhão de poetas. No rádio, o verdadeiro pagode de Clementina de Jesus e de Dona Ivone Lara substituíria os acordes esganiçados de pagodeiros "belos".
Mas como as histórias (e a sociedade) têm a péssima mania de escolher a mediocridade, na hora H escolheram os Charles, as Dianas e as Brancas de Neve da vida como ícones da realeza. Porém, como ensinou Freud, as escolhas podem esconder atos falhos. Assim, quando nomearam Jorginho Guinle como "playboy", ironicamente deixaram visível o significado de um verdadeiro príncipe: menino que brinca.
Jorginho foi o príncipe que me ensinou que para ser real e valer a pena, a vida deve ser brincada e sorvida até o último suspiro.

6 comentários:

Ana Maria Santeiro disse...

muito lindo. excelente!

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Maravilhosa esta sua postagem.
E sim...as escolhas escondem atos falhos.
beijos, vá por lá tenho postagem nova.
beijos

CHRISTINA MONTENEGRO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Já o meu "Príncipe-que-valeria-a-pena" teria sido o
Jorge Guinle...FILHO (com todo respeito ao Marco)...
BJS!

Lisa Magalhães disse...

Homenagem LINDA heim!
:)
Ele decerto deve ter lido, em algum computador com internet nas 'lan houses' dos mundos encantados do pós vida...

Já viu minha revista como está ficando?? www.lunattica.com.br

Acho que quando conversamos 'ao vivo online' eu ainda não estava com ela encaminhada..

Bjão!

Anônimo disse...

http://www.hospedagemideal.com.br

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