quinta-feira, 3 de abril de 2008
Uma Avó Inventada
Vitalina amava as invencionices. Gostava de mirar o céu e inventar estrelas. E se alguém porventura ( ou por desgraça ) lhe dissesse que não se pode olhar o céu e inventar cometas, ela certamente olharia o infeliz e inventaria mais um tolo. Para ela, o mundo não passava de uma invenção dos Deuses que imploravam aos inventados que inventassem coisas. E Vitalina obedeceu e inventou. Criou um mundo novo, um admirável mundo não tão novo, propício aos precipícios das invenções ( ou invencionices, como ela mesma falava ). Equilibrou-se num pé de vento, levantou as saias e pariu rebentos. Não gostava de chamá-los de filhos e inventou novas palavras que os significasse. Alvaro, o pequeno, foi chamado de Vico assim que mostrou a cabeça na arrebentação da vagina. Nazira virou Nazir, a amazona. E assim os rebentos se sucederam nomeados e desmamados. O primeiro leite foi retirado da Via Láctea, escorrido das tetas de uma vaca sagrada que adorava comer torresmo. Um leite gorduroso, inadequado como as invencionices das mães. Mas Vitalina não ligou e seguiu inventando carnes e gorduras. O mundo era então um filé gordo e mal passado. E se alguém, por ventura ( ou desgraça ) lhe dissesse que só os Deuses digerem os filhos, ela inventava um novo profano... E foi assim que, por artes das invencionices de Vitalina ou do ventre de Maria, arrebentei num setembro. Mamei nas tetas de uma vaca negra que Vitalina trouxera de uma galáxia que inventara. Maria dormia enquanto eu mamava. Dormia um sono inventado, criado por uma velha inventada para inventar estrelas e não ter medo de Deus.
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Um comentário:
...Márica...
sempre brilhante sua forma de Universalizar delicadezas e intimidades.
lindos (os três recentes) textos!
um beijo.
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