Durante a velhice, Luiza preparou-se para uma outra vida, em que seria rainha ou, na pior das hipóteses, princesa. Embora não tivesse nem mesmo um remoto laço genealógico com Mary Stuart, agia como se lhe fosse próxima. Não sei se por ser da Escócia e a outra do Estácio, as duas eram muito parecidas. Mary Stuart não ficou redonda como Luiza, mas em compensação não escutou as rodas de samba do Estácio. Mary Stuart nasceu rainha. Luiza nasceu para ser rainha numa outra vida. Apesar das pequenas diferenças, eram irritantemente parecidas. Mary amava as golas, Luiza as detestava. Mary arrastava saias negras pelos aposentos do palácio; Luiza, pelos becos do Estácio. Mary caçava raposas com cachorros; Luiza caçava as dezenas do cachorro. Mary usava uma coroa de ouro; Luiza, uma trança enrolada. Mary guardava doces numa caixinha de prata; Luiza, numa lata. Mary reinava em nome de Cristo, Luiza tinha um Cristo que reinava na parede da sala. Mary dicidia a coroa com a irmã; Luiza, uma parca aposentadoria. Mary casou com um rei; Luiza, com um operário. Mary sentava-se num trono; Luiza, numa cadeira Chipendale. Mary era Stuart; Luiza, Correa.
Quando se encontrou com a Ossuda, Luiza pediu-lhe que não a fizesse rainha. Preferiu uma cama, pois estava muito cansada.
Texto extraído do meu livro, Amor se Faz na Cozinha, publicado pela Editora Bertrand
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