Enquanto todo mundo se ocupava com a tragédia que assolara a cidade, Maria Luiza dormia. Dormiu por três noites e três dias. Ninguém achou estranho. Vera chegou a dizer que chuva dava sono. E deu sono. Muito sono. Ninguém ousou acordá-la, e ela acabou acordando sozinha, com uma baita fome de doces. Comeu todas as compotas da casa, depois as geléias e por fim todo o açúcar da despensa. Ninguém achou estranho. Maria Luiza tinha hábitos estranhos. Depois de tanta comilança, caiu outra vez no sono. Mais uma vez ninguém achou estranho e deixou que ela dormisse. Acordou quatro dias depois, trazendo consigo um menino invisível, um moleque chamado Manequinho da Praia. Dessa vez, estranharam e chamaram os doutores. Os médicos disseram que ela sofria de desordem da personalidade. Vitalina balançou negativamente a cabeça e disse: "Ela é médium."
Depois da tempestade sonífera, Manequinho passou a conviver na casa. Vez por outra, quando o céu enegrecia e os raios gritavam no céu, nós lhe dávamos um doce. A chuva caía mansa e não enchia a cidade.
Texto extraído do meu livro "Amor se Faz na Cozinha", publicado pela Editora Bertrand
Um comentário:
Texto maravilhoso!
Beijosss
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