terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Hoje acordei desgostada, azeda, mordida por uma barata, prima distante de um louva-deus. O dia, por sua vez deu de ombros e não fez um mínimo esforço para cicatrizar meu fígado : amanheceu cinzento como um cadáver esquecido no necrotério, como um terno roto de um desempregado que há muito deixou de procurar emprego.
Hoje amanheci triste, necrosada, cansada, roída por uma ratazana, prima distante de um castor. O sol fingiu não me ver, empinou o nariz e foi brilhar para o cume de uma montanha. Por puro sadismo, por saber do medo que tenho de altura e certeza de que nunca a escalarei. Ao virar a curva do vale brilhou para trás, esboçou um tico de luz - por puro desprezo - e sentou-se pleno, exibido, no trono do cume do Pico da Caledônia.
Hoje acordei arqueológica, antiga como um solo de Chet, empedrada, sem janelas, sufocada. Olhei para o piso encerado debaixo da cama e o Tâmisa de Virgínia me enviou um beijo, descarado, sedutor. Calcei as sandálias e me arrastei pela casa em passos de Billie em Solitude. Sozinha. Eu e um Deus que as vezes parece ter se aliado ao Diabo.
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5 comentários:
Então, que o Sol do amanhecer
a visite ao entardecer!
Parabéns pela poesia contida no seu Hoje
Um abraço justo
Justo
Marcinha querida, tenho chego aos dias assim, azeda da vida, com tanta freqüência que me espanto. Tento reviver dias gloriosos, de glórias minhas por mim mesma, quando era alguma coisa que merecesse respeito e admiração.
Tenho visitado os dias em cinza.
Oi Márcia, estou por aqui, sempre.
bj da angela
Adorei seu texto...que esse azedume deu poesia!
Também tenho desses ranços,
que me inspiram de vez em quando.
Abraço.
Nossa este texto fez sorrir minha amargura!!! Solo antigo de Chet Baker... nossa... dor infinita, infinitamente poetico...
Edson Ikê
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