tag:blogger.com,1999:blog-48736711603060561492024-02-02T05:22:43.081-08:00O Fantasma de Chet BakerArte no Poder. Delírios. Devaneios. Posturas. Imposturas. Errâncias...O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.comBlogger220125tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-32478713261166231612014-06-09T06:39:00.001-07:002014-06-09T06:39:29.940-07:00Voltei!!!!!!Depois de anos sem poder entrar no Blog (podem rir, esqueci a senha), finalmente retornei! Espero manter o hábito de escrever sempre.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwur6If65Fjc2ryc0ttGexKa4PyTCcR36aMsF2aT0yy0hO5kOXVyKPCasyHdJetb_tByGmx-wUC-IcyfcQlxZjvFURDQpOfuwi_PcjaKAclaaRp9MmLctoocNY4s7axAgAJAODqo45-voz/s1600/Digitalizar0010.tif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwur6If65Fjc2ryc0ttGexKa4PyTCcR36aMsF2aT0yy0hO5kOXVyKPCasyHdJetb_tByGmx-wUC-IcyfcQlxZjvFURDQpOfuwi_PcjaKAclaaRp9MmLctoocNY4s7axAgAJAODqo45-voz/s1600/Digitalizar0010.tif" height="259" width="320" /></a></div>
O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-86323954595760509112014-05-01T01:20:00.003-07:002014-05-01T01:20:57.140-07:00Voltei!!!!!!<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzP_FGy3sTC-BFkykwCNOwDFgAUpExJsDddSX8xCNM14tKF_42GHVU7OeUniXYznNJEHsdsKGFtBxJ-vsFUxfaM4D4VQFqBGHKAInD5LKsys0a_AstjEOuA2E1LPmVxcPmz4mG-pXw2c8O/s1600/1argola2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzP_FGy3sTC-BFkykwCNOwDFgAUpExJsDddSX8xCNM14tKF_42GHVU7OeUniXYznNJEHsdsKGFtBxJ-vsFUxfaM4D4VQFqBGHKAInD5LKsys0a_AstjEOuA2E1LPmVxcPmz4mG-pXw2c8O/s1600/1argola2.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-38998431355441866462014-05-01T01:18:00.000-07:002014-05-01T01:18:00.990-07:00Era Uma Vez Um Vestido Amarelo<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTvn-ke2ro7xlSwWxhO_4H_CnPHkTJtSNrbGp8_cy-4xGAz_8NZoY-qdwpKJ14SuJqQxzflBzoG5A-z26u6kiEvPybKN_CWUndiBt3TYYgLShDM_WbzAPwLyEInCCUYWZAoTtRa4YxqkDz/s1600/Amarelo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTvn-ke2ro7xlSwWxhO_4H_CnPHkTJtSNrbGp8_cy-4xGAz_8NZoY-qdwpKJ14SuJqQxzflBzoG5A-z26u6kiEvPybKN_CWUndiBt3TYYgLShDM_WbzAPwLyEInCCUYWZAoTtRa4YxqkDz/s1600/Amarelo.jpg" height="320" width="163" /></a></div>
A culpa certamente foi de Courrèges. O que é que eu tinha que cravar os olhos naquele vestido? Como é que minhas pernas roliças caberiam dentro daquelas botas que engoliam os joelhos? Como eu conseguiria andar? E - o pior - como poupar a bolsinha branca dos murros que meus joelhos desfechariam na pobre coitada. Tão frágil, branca como uma Branca de Neve abatida num fedorento curtume, dificilmente a bolsinha aguentaria os trancos dos meus joelhos. Os pows e plaft plaftes deles não eram para qualquer uma, só minha velha mala de couro do colégio os encarava de frente. Corajosa, audaz, carregada de livros e um estojo de madeira e mais uma caixa de lápis de cor (com VINTE E QUATRO lápis guardados por um um tucano), minha fedorenta mala além de aguentar os trancos, revidava. Bem verdade que os revides deixavam hematomas, tanto nela como nas rótulas carnadas, mas isso é uma outra história; a verdade é que da página da revista de moda de minha mãe lá estavam eles - o vestido, um par de botas brancas e uma bolsinha raquítica piscando os olhos para mim.<br />
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Quando apontei para o trio e anunciei a vontade de possuí-los, minha mãe me olhou de soslaio. Ela sempre olhava de soslaio em situações constrangedoras, mas eu, a encarnação familiar do constrangimento, ignorei. Afinal,estávamos quites em matéria de constrangimento: ela (juntamente com todas as minhas tias lindissimas & chiquérrimas), constrangida por ser mãe de um ser não identificado, desengonçado, de joelhos sempre esfolados, e eu, por ser filha da própria Afrodite. Você acha que é fácil ser filha de Afrodite? Dói, dói muito...</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Doendo como dente com nervo exposto a chupar gelo, persisti no desejo. Mamãe deu de ombros (quando ela dava de ombros era guilhotina, na certa) e telefonou para a costureira e marcou hora. Dona Hortência. Costureira de fino trato e mãos de alfinetes. Nos olhamos, não, ela me olhou e olhou para a fotografia na revista e abriu um sorriso de alfinete de fralda. Eu devia ter reparado no alfinetão a prender uma risada, mas me fiz de tonta. </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Mamãe escolheu os tecidos: shantung, se não me engano. Tirei a roupa e dona Hortência me tirou as medidas. O alfinetão à boca e fita métrica a postos. Foram dias de alfinetes. Dias e dias de alinhavos, de olhares de soslaio e meneio de ombros e alfinete de fralda, mas resisti e o vestido ficou pronto. Os acessórios já tinham sido comprados. Só faltava um convite para uma festa. Não teve.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Estóica (ou masoquista) aguentei o tranco e decidi tomar sorvete, sozinha, na confeitaria da esquina. Americana, ela se chamava. A caminhada se resumiu a metros e metros de briga acirrada, desleal mesmo, entre os meus joelhos e a bolsinha branca, e a um cortejo Daliniano de pessoas com bocas fechadas por alfinetões de fralda. Nunca mais usei amarelo... e fiz de Courrèges meu inimigo nº1.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Marcia Frazão</div>
O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-55919554936906055632012-07-05T07:18:00.001-07:002012-07-05T07:18:42.734-07:00Panquecas da TV Armazém de Bruxa<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/s0WEhePG6uk?fs=1" width="480"></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-89435737387372032222012-07-04T09:35:00.001-07:002012-07-04T09:35:32.212-07:00TV Armazém de Bruxa NO AR!<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/2C10_8aPaXI?fs=1" width="480"></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-84218722403034043312011-06-23T04:09:00.000-07:002011-06-23T04:09:18.934-07:00Retalhos de mim...<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/dHfxhsIVcz8?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-61324043842382913262011-06-23T01:40:00.000-07:002011-06-23T01:40:25.242-07:00Memórias de mim<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/poFFwMjhT28?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-29363061315021261412011-06-15T03:17:00.000-07:002011-06-15T03:17:21.515-07:00Cliff Edwards - When You Wish Upon A Star<iframe width="425" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/qZ1NYFFDT8I?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-40028476590623697392011-04-24T13:12:00.000-07:002011-04-24T13:12:17.135-07:00Chet Baker & Uma Tarde Estranhamente Feliz...<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/gX2Xk4mTWKo?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-22686759719989936482011-03-25T05:34:00.000-07:002011-03-25T05:34:18.276-07:00Chet & Eu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipxpuQkhtexzd8YpCaxncXadiBZBM9JscNpobEUNRM_g3_RUfRs-BE_XkvRpKVa0OSSkmNUBghehgnJqN5S3M1hkfMoTARSgAOLvkzAgFhxbKQsCKAGDlPnuQBvvy6eZMYVY9irjKUNC5J/s1600/chet2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipxpuQkhtexzd8YpCaxncXadiBZBM9JscNpobEUNRM_g3_RUfRs-BE_XkvRpKVa0OSSkmNUBghehgnJqN5S3M1hkfMoTARSgAOLvkzAgFhxbKQsCKAGDlPnuQBvvy6eZMYVY9irjKUNC5J/s1600/chet2.jpg" /></a></div><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Eu devia ter desconfiado quando de repente a bolacha negra surgiu do nada naquela velha loja de livros velhíssimos. O que faria uma bolacha negra no meio de poeira e traças, exibindo-se em balé de trinta e três rotações? Seria algum recado da cantora de blues que se mostrava, mostrava não, se insinuava, nas últimas frases da Náusea de Sartre? Mas Sartre já tinha morrido e os anjos já o tinham entupido de sal de andrews! Simone já estava ao seu lado e já tinham até alugado um conjugado no céu! Não, não era a cantora de jazz nem o estômago delicado do filósofo. A bolacha vinha de algum lugar do Além que ficava além de minha nauseada imaginação.</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br />
</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Está certo, confesso, eu andava meio nauseada, meio desligada, tão meio desafinada que entrara na loja à cata de um livro qualquer de auto-ajuda - pode rir, é pra rir mesmo - de qualquer livro de no máximo oitenta páginas burramente distribuídas em cento e oitenta parágrafos que dissessem absolutamente nada. Nada do ser e do nada nem de filosofias que me confirmassem que não há nada mais cruel que ter idéias na cabeça. Eu precisava de um tudo estofado como um sofá das Casas Bahia, de preferência em suaves prestações, comprado com um cartão de crédito que o livrinho certamente me ensinaria como obter...</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br />
</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Foi no intervalo entre o desejo de me perder de "si" e me achar em "dó" de mim financiado pela Fininvest ou qualquer coisa que não valha que a bolacha rodopiou aos meus pés. Estiquei os olhos e lá estava Chet Baker, o fantasma que não era de Bakersville, mas uivava para a lua com um trumpete. Lá estava ele, saído do Nada da cantora da Náusea, do Uivo de Guinsberg e das estradas de Kerouac. Me olhou com aqueles olhos de belas heroínas e me chamou para dançar. Dançar?! Eu estava ali para encontrar o Graal da mediocridade em suaves prestações! Eu já tinha jogado fora todos os meus livros e os meus discos de jazz. Agora eu queria mais era jazer numa vida despreocupada, embalada por churrasco, cerveja e piadas idiotas. Eu queria aprender de cor todas as marcas de carros (parei no chevete), aparelhos eletrônicos e tralharias digitais. E lá me vinha Chet Baker numa hora dessas me chamar para dançar? Ele e sua heroína que continuassem a girar em trinta e três rotações. E que engolissem a agulha de diamante! Eu mesma já tinha jogado a vitrola fora...</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: right;">Mas por artes da heroína de Chet ou do ácido lisérgico que os anjos cismam em misturar ao ar dos poetas, a bolacha começou a tocar sozinha. O que fazer? Como não fugir de "si" no "sol" de tanta música? E foi naquele segundo em que Chet começou a tocar que desisti da mediocridade medíocre de vencer na vida com titica na cabeça e, uivando os primeiros versos do Uivo, coloquei fogo na prateleira dos livros de auto-ajuda. Levei Chet para casa e dançamos a noite toda ao som de My Funny Valentine.</div>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-7668000012350690122011-03-24T10:36:00.000-07:002011-03-24T10:41:59.182-07:00Jóia & Um Bebê Mijado<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuwY3hE2I4xHTSK600sa56cBiXuzveg8K12jSN6eZLVD-CVOaSLW2bSVPBzMCG4j6onjZwaBB_iKDm-el0RDSKXlgtZle33KXN2IB4PZtVjDSUK2Vw5a2FRN1hVSRlVU4IdBm9A75xstgV/s1600/foto+eu+20.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuwY3hE2I4xHTSK600sa56cBiXuzveg8K12jSN6eZLVD-CVOaSLW2bSVPBzMCG4j6onjZwaBB_iKDm-el0RDSKXlgtZle33KXN2IB4PZtVjDSUK2Vw5a2FRN1hVSRlVU4IdBm9A75xstgV/s1600/foto+eu+20.bmp" /></a></div><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #777777; font-family: 'Courier New', Courier, monospace; font-size: small;"><b>D</b>e dentro da caixa de jóias elas me fitam, mudas, sem dedos, punhos e pescoços. Do fundo da gaveta, misturados aos lenços e incontáveis miudezas, me fitam sem olhos. Jóias e óculos. Metais, gemas, vidros e microscópicos parafusos. Rescaldo de um incêndio aguado, frio, ventado...<br />
<b>E</b>xperimento os anéis e eles não cabem nos meus dedos. Se recusam a entrar. Procuram outros dedos. Anseiam mãos mais leves, alongadas, descarnadas à medida certa, exata. No pescoço os colares sufocam, apertam, dão nó na garganta. Avessos, malcriados, rebeldes, turrões, trancam os fechos e não me deixam entrar.<br />
<b>M</b>e olho no espelho, me sinto ridícula com óculos que decididamente não se encaixam no meu nariz. Deslizam, se espatifam no chão e lá ficam, se arrastando como bebês mijados em busca da mãe. Mas cadê ela? Onde se escondeu? Debaixo de qual coberta? De cetim? De lã? De madeira?<br />
Caetano canta<b><i> Contigo en la Distancia </i></b>e por um momento a vejo - por mais que num mero glimpse - no fundo da sala, um pouco à direita da janela. Ela me lança um beijo e o beijo, talvez pela tarde fria, afaga o meu rosto num vento gelado...</span>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-21690376289775275882011-03-23T12:32:00.000-07:002011-03-23T12:32:34.529-07:00Cartão Postal & Escrita Feminina<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/Ie-sUqCyUAg?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-20544528105087385572011-03-23T03:20:00.000-07:002011-03-23T03:20:40.479-07:00Melhores Amigos & Bênçãos<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/F5wrfN7Sw74?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-18017403625663080472011-03-22T13:47:00.000-07:002011-03-22T13:48:01.327-07:00Tom Waits,Torta de Maçã & Gripe<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/tkHCrI111Q4?fs=1" width="480"></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-46748852674966160662011-03-19T04:12:00.000-07:002011-03-19T04:12:57.472-07:00Ler dá Barato<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/ckhb_Y7hNqc?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-21286873971799756842011-03-19T01:42:00.000-07:002011-03-19T01:42:30.347-07:00Etta James , Amanhecer & Sandices<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/ekTaFibm9Yg?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-39065481405071586072011-03-10T01:23:00.000-08:002011-03-10T01:23:26.832-08:00Novos Baianos, Swing de Campo Grande<iframe width="480" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/0tEELCWu5IU?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-32940085524193310702011-03-09T23:12:00.000-08:002011-03-09T23:12:49.287-08:00Escrevendo Merda!<iframe width="425" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/DwzI1rnNYek?fs=1" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-91286801478017000362010-05-18T12:14:00.000-07:002010-05-18T12:24:16.033-07:00E Um Dia Ela Dormiu...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsy6qL0boVPSiY71_MwPwWV5M12Qul8Yl7AufRHDXsC1rXeTPE1Ptb-NaEKpT5WRDP2ge7GtKvSPQ0SW2EfS68s4evy29sp0zVAysyLtngJotf96byzTEqgMCSquQ9uQRxC7AMi9a9LsFo/s1600/eu+m%C3%A3e.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 260px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsy6qL0boVPSiY71_MwPwWV5M12Qul8Yl7AufRHDXsC1rXeTPE1Ptb-NaEKpT5WRDP2ge7GtKvSPQ0SW2EfS68s4evy29sp0zVAysyLtngJotf96byzTEqgMCSquQ9uQRxC7AMi9a9LsFo/s400/eu+m%C3%A3e.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5472693052386618018" /></a><br /><span class="Apple-style-span" style=" line-height: 14px; font-family:'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Q</span></b></span></span><span class="Apple-style-span" style=" color: rgb(51, 51, 51); line-height: 14px; font-family:'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;font-size:11px;">uando o telefone tocou, eu já sabia que a <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Ossuda</span></b> a tinha levado. Não foi preciso que ninguém me avisasse, a<span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;"> </span><b><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">Senhora dos Ossos</span> </span></b>já sibilara no meu ouvido estranhas sílabas mescladas com chocalhos e uivos de vento. Sílabas brancas, assustadoramente brancas como ossos lavados; como presas de elefantes fantasmas a vagarem por Áfricas ancestrais. Não foi preciso nenhum atestado de óbito que atestasse o óbvio: ela se fora e não voltaria. Nunca mais.<br /><b><span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">D</span></span></b>o extremo da linha telefônica, aflito, meu irmão dizia que ela dormira e se recusava a acordar. Onírica, morta, alheia a agonia ao redor, minha mãe se extinguira como um último cotoco de vela derretida em lágrimas de cera. Embrulhada, enroscada no cobertor, dormia o sono dos mortos, aliviada da carga da maternidade. E eu? Como carregaria o peso esmagador da ausência? Será que ela não pensara que talvez eu não tivesse força para carregar tal carga? Será que não pensou que eu poderia tombar no meio do caminho – sombrio – que se descortinava à frente? Será que não se importou com a invalidez da minha súbita orfandade? Será que o sono da <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Ossuda</span></b> diluíra o seu pensamento e a arquetipal responsabilidade materna? Não sei. Só sei que nunca um mero telefonema me soou tão metafísico e sombrio.<br /><b><i><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;">Talvez</span></span></i></b> por arte do doce atordoamento que só a metafísica traz, ou por pura birra, deixei o telefone de lado e me afundei na maciez lodosa da poltrona da sala. Não, eu não queria saber dos detalhes, não queria saber quantas vezes meu irmão a chamou, quantas cutucadas deu, quanto tempo passou depois dela passar pela sala, entrar no quarto, deitar-se e passar para o lado de lá, o lado do <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Letes</span></b>. Os detalhes pareciam bifes recém cortados, estirados gelados sobre o tampo da pia. Será que ela não se preocupou com o jantar? Toda mãe se preocupa com o jantar. Mas ela já não era mãe. Por ossudociência da <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Ossuda</span></b>, virara um não- sei- quê que tanto atormenta os filósofos, se transformara numa não-coisa, numa não- realidade, num tico provável de existência... </span>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-35143252053542276322010-05-13T03:41:00.001-07:002010-05-13T03:45:58.422-07:00Jóias, Óculos & um Bebê Mijado<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK1ntYhkS_sL_3zObOY5sjQrTiWdSkqTf3mbag6zJQvObOPRr-4yVQV6EvVDE9vzL2wcbeZeK2nUN6-a6yfrUBxfm1eGPEGMtlXLqOyceLFfN4J0IOtpM6j2jR6giGbqAJyJbP-R1OQ_WN/s1600/mam%C3%A3e+pequena.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 252px; height: 326px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK1ntYhkS_sL_3zObOY5sjQrTiWdSkqTf3mbag6zJQvObOPRr-4yVQV6EvVDE9vzL2wcbeZeK2nUN6-a6yfrUBxfm1eGPEGMtlXLqOyceLFfN4J0IOtpM6j2jR6giGbqAJyJbP-R1OQ_WN/s400/mam%C3%A3e+pequena.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5470703245309284594" /></a><br /><span class="Apple-style-span" style=" color: rgb(119, 119, 119); font-family:'trebuchet ms', verdana, arial, sans-serif;font-size:small;"><b>D</b>e dentro da caixa de jóias elas me fitam, mudas, sem dedos, punhos e pescoços. Do fundo da gaveta, misturados aos lenços e incontáveis miudezas, me fitam sem olhos. Jóias e óculos. Metais, gemas, vidros e microscópicos parafusos. Rescaldo de um incêndio aguado, frio, ventado...<br /><b>E</b>xperimento os anéis e eles não cabem nos meus dedos. Se recusam a entrar. Procuram outros dedos. Anseiam mãos mais leves, alongadas, descarnadas à medida certa, exata. No pescoço os colares sufocam, apertam, dão nó na garganta. Avessos, malcriados, rebeldes, turrões, trancam os fechos e não me deixam entrar.<br /><b>M</b>e olho no espelho, me sinto ridícula com óculos que decididamente não se encaixam no meu nariz. Deslizam, se espatifam no chão e lá ficam, se arrastando como bebês mijados em busca da mãe. Mas cadê ela? Onde se escondeu? Debaixo de qual coberta? De cetim? De lã? De madeira?<br />Caetano canta<b><i> Contigo en la Distancia </i></b>e por um momento a vejo - por mais que num mero glimpse - no fundo da sala, um pouco à direita da janela. Ela me lança um beijo e o beijo, talvez pela tarde fria, afaga o meu rosto num vento gelado...</span>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-85060487341805458662010-01-10T05:05:00.000-08:002010-01-10T05:09:24.953-08:00Aída, Tupi, José & Stregas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyp3sXPFmLAiBhcNELsoQ7-hNaeihRrwklgnfaCG-AOx3Zsf8ZPvkx-CUSIOAtO-4TVzT-fTjZDfKbLKlZKuXT2yl4YeUirvFHygfuWDrfbD2iNc1-QNC8o3QzrsND65cifRQMZShSmwZ7/s1600-h/A%C3%ADda2.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 284px; height: 284px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyp3sXPFmLAiBhcNELsoQ7-hNaeihRrwklgnfaCG-AOx3Zsf8ZPvkx-CUSIOAtO-4TVzT-fTjZDfKbLKlZKuXT2yl4YeUirvFHygfuWDrfbD2iNc1-QNC8o3QzrsND65cifRQMZShSmwZ7/s400/A%C3%ADda2.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5425097443256303282" /></a><div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Q</span></b></span>uem passasse por aquela rua, cravada no coração da Tijuca, nem de longe desconfiaria de que, num velho sobrado, ela abrigava um estranho grupo de bruxas. Um bando de stregas guardado por um cachorro velho e peludo chamado <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Tupi</span></b>.</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> A princípio, a razão dessa brasileirice canina poderia parecer absurda, porém, as bruxas possuem uma lógica que desafia todos os princípios da razão, e por isso Tupi se chamava Tupi, porque um dia, sabe-se lá por qual artimanha, Hebinha, a mais sensata das bruxas do grupo, recebera um estranho aviso de uma cabocla do centro espírita que frequentava: "Vosmicê é protegida por um índio véio, garboso e guerreiro." Ao voltar para casa, Hebinha encontrou, bem na porta de entrada, um filhote mestiço de pastor alemão com vira-lata, feio, raquítico e fedorento. Lembrandp-se das palavras de cabocla Jurema, pegou o animal e levou-o para dentro de casa. Chamou-o de Tupi e o transformou num índio. Não sei se grato pela acolhida ou por ser o instrumento de um plano inacessível aos mortais,Tupi adequou-se como uma luva ao papel de índio protetor de um alucinado bando de stregas.</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Todos os dias, depois de seu regular passeio pelas calçadas e postes da rua, Tupi subia a escada escura e comprida do velho sobrado, deitava-se atravessado no topo e ali ficava como um degrau a mais que escanrava os dentes. Guardava a entrada como um índio à espreita da caça. Comia à noite, quando todos já estavam dormindo, e retornava, rápido, para seu lugar de obervação.</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Vivia entre as mulheres e pouco ia ao andar de baixo, ao grande armazém em que os homens vendiam as iguarias que as stregas preparavam no andar de cima. Não sei se cansado de tanto ciau e bambino, Tupi resolveu trazer para a casa uma bruxa brasileira. Procurou na rua e não a encontrou. Fez então uma coisa insólita: aliou-se a José, o ragazzo mais belo da casa. Um autêntico filho da Itália, moreno, sensual e divertido. Essa aliança começou com inesperadas visitas ao armazém. <b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">José</span></b>, que adorava animais, passou a receber o cachorro com suculentas linguiças, fatias de salame, nacos de pão e presunto. A amizade estreitou-se de tal modo que José passou a carregar Tupi para todo canto que ia. E foi assim que o cachorro tornou-se presença constante nos longos passeios de carro que José fazia nos fins de semana. Da janela, Tupi procurava...</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Um dia, num desses passeios automobilísticos, Tupi encontrou o que tanto procurava. Imediatamente abanou o rabo e começou a latir. Preocupado e achando que o animal estava querendo sair para fazer suas necessidades, José estacionou o carro numa praça. E lá estava <span class="Apple-style-span" style="color:#CC0000;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Aída</span></b></span>, a moça mais bonita que José já tinha visto. Tupi aproximou-se dela e se esmerou em gentilezas. Fez piruetas, rolou no chão e fingiu-se de morto. O namoro entre José e Aída iniciou-se em meio a bolas lançadas e afagos na barriga do cachorro. Com o tempo, as bolas eram lançadas cada vez mais longe, para que Tupi os deixasse entregues aos carinhos. Tupi percebeu e "misteriosamente" passou a ter grandes dificuldades para encontrar a bolinha. Passava horas fuçando atrás de arbustos e cavando buracos. O namoro logo chegou ao altar. Tupi não foi à igreja. Preferiu recepcionar os noivos no topo da escada.</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Quando os noivos chegaram ao velho sobrado, lá estava Tupi em seu posto de observação. Acostumada com a agilidade pueril do animal, Aída estranhou a solidez inerte que ele então exibia. Chamou-o para brincar, fez afagos em sua barriga, e... nada. Tupi não esboçava um só movimento. Foi nessa hora que Otília, a matriarca, chamou-a para conhecer o quarto que as mulheres haviam preparado para os dois. Aída seguiu-a de bom grado e, se não fosse a presença de uma mesa cheia de pães no centro do aposento, o acharia perfeito. A essa altura devo esclarecer que Aída, filha de Virgínia, afilhada de Afrodite e de Nossa Senhora de Fátima, crescera em meio às sombras dos xales e à luminosidade das roupas engomadas. Em seu mundo não havia espaço para os excessos das massas. O pão era comido de manhãzinha e no fim da tarde, e sempre à mesa de jantar. Não. Decididamente os pães não faziam parte do cenário de um quarto de dormir. E ainda por cima com tanto vinho... Lembrou de Virgínia e trocou o vestido de noite pelo recato do xale negro.</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Na manhã seguinte, José acordou de cara fechada. As mulheres não perguntaram por quê. Aguardaram Aída com a mesa preparada para a feitura dos pães. Aída não entendeu a razão de Otília e o bando precisarem ouvir ópera enquanto preparavam a massa. Achou estranhos as saias suspensas entre as coxas e os decotes caídos sobre os seios. Mas, enfim, eram italianas, e Virgínia já havia falado sobre as estranhices das stregas...</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> Naquela noite o pão e o vinho lhe despertaram uma estranha lânguidez, e, na manhã seguinte, José foi feliz para o trabalho...</span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"></span> </div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"> </span></div> <div><span style="font-family:Arial;font-size:85%;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><b>Obs</b></span>: escrevi este texto para Aída, irmã de Maria Luiza, América e Olinda e filha de Virgínia. Quando o escrevi nem de longe imaginava que a Mortíssima a levaria, como levou Maria Luiza, dormindo. Na minha cabeça ela, minha mãe, minhas tias, minhas avós, bisavós e trisavós, eram imortais... Na madrugada de anteontem para ontem, sonhei com a Virgem num caixão de vidro. Bela, imóvel como Tupi. Pensei no significado do sonho durante o dia inteiro. Hoje fiquei sabendo das artes da Ossuda. Ao mesmo tempo em que a tristeza invadiu minha alma, fiquei feliz ao decifrar o sonho: a Virgem fez com que eu escrevesse livros e as tornasse imortais...</span></div>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-21316703033931004892010-01-05T02:50:00.001-08:002011-03-24T10:29:33.801-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcAhichoYUJ4OMEPdd5zdPEZecRueLDPoFiwaDLYfMNzW_YOcRKkEmPDFJbeUBjvGlK2htXa9-UFkTBKYmZ6QENFZJ3W7zgD2i5-3-Xd0QU8n7dHfDyr0in9tyVklUTowt4vdztiEAFjib/s1600-h/nude1936.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423206577160947410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcAhichoYUJ4OMEPdd5zdPEZecRueLDPoFiwaDLYfMNzW_YOcRKkEmPDFJbeUBjvGlK2htXa9-UFkTBKYmZ6QENFZJ3W7zgD2i5-3-Xd0QU8n7dHfDyr0in9tyVklUTowt4vdztiEAFjib/s400/nude1936.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; float: right; height: 400px; margin: 0 0 10px 10px; width: 321px;" /></a><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-size: large;"><b> Hoje</b></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"> acordei desgostada, azeda, mordida por uma barata, prima distante de um louva-deus. O dia, por sua vez deu de ombros e não fez um mínimo esforço para cicatrizar meu fígado : amanheceu cinzento como um cadáver esquecido no necrotério, como um terno roto de um desempregado que há muito deixou de procurar emprego.<br />
</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-size: large;"><b>Hoje</b></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"> amanheci triste, necrosada, cansada, roída por uma ratazana, prima distante de um castor. O sol fingiu não me ver, empinou o nariz e foi brilhar para o cume de uma montanha. Por puro sadismo, por saber do medo que tenho de altura e certeza de que nunca a escalarei. Ao virar a curva do vale brilhou para trás, esboçou um tico de luz - por puro desprezo - e sentou-se pleno, exibido, no trono do cume do Pico da Caledônia.<br />
</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-size: large;"><b> Hoje</b></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"> acordei arqueológica, antiga como um solo de Chet, empedrada, sem janelas, sufocada. Olhei para o piso encerado debaixo da cama e o Tâmisa de Virgínia me enviou um beijo, descarado, sedutor. Calcei as sandálias e me arrastei pela casa em passos de Billie em Solitude. Sozinha. Eu e um </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-size: large;"><b>Deus</b></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;"> que as vezes parece ter se aliado ao <span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b>Diabo</b>.</span></span>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-72448125933455734852009-12-01T04:50:00.000-08:002009-12-01T05:44:20.586-08:00Freud, a Mortíssima & Eu<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi40nuoB0u5RlbBW1xvSBBc1ELTfnZAd5rjF0j8-VVk23wZYdurjFfAAEdviLgEgo4w_qBnJ4AzeZPnwM8g6J9W3r0tolgf2b8l2ywzrJOAI3XoWvLu5zsbHjf6EpaY_yRcIFZljUiFaknU/s1600/Llorona.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5410263074052970306" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 313px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi40nuoB0u5RlbBW1xvSBBc1ELTfnZAd5rjF0j8-VVk23wZYdurjFfAAEdviLgEgo4w_qBnJ4AzeZPnwM8g6J9W3r0tolgf2b8l2ywzrJOAI3XoWvLu5zsbHjf6EpaY_yRcIFZljUiFaknU/s400/Llorona.jpg" border="0" /></a> <strong><span style="font-size:130%;">A</span></strong> <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Mortíssima </strong></span>bem que podia ter me avisado que levaria <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Maria Luiza</strong></span> em pleno sono. Mas não, preferiu se fazer de sonsa e não avisou. Fingiu despreocupação supérfula e optou por perguntar pelo capítulo da novela que perdera na véspera. "Dia afobado. Andei tanto que estou cheia de bolhas nos pés," ela disse, exibindo os pés descarnados. Como se bolhas brotassem de ossos...<br /><div><strong><span style="font-size:130%;">F</span></strong>ingindo não dar atenção ao meu desconforto, acomodou-se de crânio e ossos na poltrona mais confortável da sala. "Morreu tranquila... sonhando com seu pai," disse enquanto escorregava um biscoito pela boca escancarada, sem goela. O que sabia ela de sonhos? Atarefada pelo ofício de recolher almas - e corpos - , a <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Mortíssima</strong></span> mal diferia de um gerente de banco ou de um burocrata que sorri para rostos sem faces. <strong><em>Que pelo menos ela não tenha sorrido quando estendeu as mãos ossudas para minha mãe... Que tenha tido a gentileza de esperar o final do sonho</em>...</strong></div><br /><div><strong><span style="font-size:130%;">A</span></strong>lheia aos pensamentos que revolviam meu cérebro como larvas de bicheira de cavalo que perfuravam toda a massa encefálica até torná-la fluida, impalpável enxaqueca, a <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Ossuda </strong></span>prosseguia com o rol de assuntos descarnados, maquiados com os mesmos tons das visitas que chegam sem chegar. Gutural, áspera, arenosa, lodosa, sua voz penetrava pelos meus ouvidos como uma agulha de tricô metálica, comprida, fina... que tricotava medonhos buracos entre o coração e o esôfago. Devo ter demonstrado claramente a minha agonia porque que lá pelas tantas seus ossos paralisaram num olhar oco, encovado. Do fundo das duas covas rasas, empedradas, secas, depauperadas, eclodiu um eco: <em><strong>por que você, monte de ossos, não me avisou antes?</strong></em></div><br /><div><strong><span style="font-size:130%;">I</span></strong>ndiferente, a <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Mortíssima </strong></span>sacolejou os ossos, ajeitou o crânio, alongou as extremidades ossudas e olhou para o relógio à parede. Quarenta e cinco minutos exatos tinham transcorrido desde a sua chegada. Em impassível indiferença a <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Ossuda </strong></span>se foi, sem se despedir nem agendar uma nova visita...</div>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-52988879102546235742009-11-29T10:08:00.000-08:002009-11-29T10:15:26.218-08:00Portugal, o Baú & Virgínia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD-R4A2tUiKdZpUMDoOjX1mYx8Iu224FckFNAmROAexCI4F0Zx3SoLAe1P82fQ7SYlD6B7wazPBzoAvpQcKhLah2x7MZNXyXW7fX2kByDD2KJfhrK3LimPCRybvvp3Yuxe0xCKCeeWvZaW/s1600/virginia24.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409590698864155554" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 240px; CURSOR: hand; HEIGHT: 218px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD-R4A2tUiKdZpUMDoOjX1mYx8Iu224FckFNAmROAexCI4F0Zx3SoLAe1P82fQ7SYlD6B7wazPBzoAvpQcKhLah2x7MZNXyXW7fX2kByDD2KJfhrK3LimPCRybvvp3Yuxe0xCKCeeWvZaW/s400/virginia24.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Q</strong></span>uando chegou ao Brasil, <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Virgínia</strong></span> guardou <strong><span style="font-size:130%;">Portugal </span></strong>dentro de um enorme baú de madeira. Cobriu-o com um lenço florido e franjado. Ali a Lusitânia ficava quieta, esperando que <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Virgínia</strong></span> o abrisse quando sentisse saudades. A princípio o baú era aberto umas três vezes ao dia. <span style="color:#cc0000;"><strong>Virgínia</strong></span> descalçava os sapatos, sentava na borda e enfiava os pés nas toalhas, fronhas, lençóis e álbuns de fotografias do <strong><span style="font-size:130%;">Rio Dão</span></strong>. Alheio às estranhas águas, o rio rolava seixos por entre os dedos da rapariga que um dia conhecera em<strong><span style="font-size:130%;"> Mangualde</span></strong>. Nessas horas, <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Virgínia </strong></span>chorava. As lágrimas molhavam as roupas do oceano que margeava <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Lisboa</strong></span>. Subitamente os seixos secavam para que ela e <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Amália Rodrigues</strong></span> subissem a <strong><span style="font-size:130%;">Rua do Capelão</span></strong>. Subiam cantando como só as portuguesas cantam. <strong><span style="font-size:130%;">Portugal </span></strong>nessas horas também chorava. Pegava uma guitarra esquecida no fundo do baú e desenhava notas num fado. Não sei se por fado ou destino, <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Virgínia</strong></span> um dia mergulhou no <strong><span style="font-size:130%;">Dão</span></strong> e nunca mais retornou. O baú continua no mesmo lugar, fechado, cerrado, dolorido como o fado. A chave? <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>Virgínia</strong></span> a levou com ela...<br /><div></div><br /><div></div><br /><div><br />Trecho extraído do meu livro, <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong><em>Amor se Faz na Cozinha</em></strong></span>, publicado pela <span style="color:#ff0000;"><strong>Editora Bertrand</strong></span>.</div>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4873671160306056149.post-56688296392367313122009-10-30T13:10:00.000-07:002009-10-30T13:20:18.470-07:00Vazio & Portas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQkBluzqe6UY3QQWn3MDgNxIYCW8PtZoMb20hFa5v9jiGQ9kVcndrnBz_h76olzQemCsEs04vcGKwYyHWb2TW9M6jCIbY_rDqiuUe3HocA2ehGkQDYU0O_VfwmLML_VLffBOXXdp0c8jl4/s1600-h/mamãe+e+papai.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5398489339617791154" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 376px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQkBluzqe6UY3QQWn3MDgNxIYCW8PtZoMb20hFa5v9jiGQ9kVcndrnBz_h76olzQemCsEs04vcGKwYyHWb2TW9M6jCIbY_rDqiuUe3HocA2ehGkQDYU0O_VfwmLML_VLffBOXXdp0c8jl4/s400/mam%C3%A3e+e+papai.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:130%;color:#cc0000;"><strong>D</strong></span>essa vez a campainha não afundou no mar da insistência pregado um pouco abaixo do umbral da porta. Muda, sem ousar uma só nota, anunciou minha chegada no apartamento vazio. Nenhum som se fez na sala. Nenhuma tosse apontou a velha asma. Nenhuma estrela cintilou em olhos úmidos, curiosos, sombreados pela névoa da idade. O tempo parara equilibrado na tênue teia de aranha que pendia de um dos cantos do teto. Mas o apartamento não tinha teto, nem chão nem paredes... Só portas e vazio.<br /> <strong><span style="font-size:130%;color:#cc0000;">E</span></strong>ntrei pela porta que outrora ligava ao quarto e não havia quarto. Contei dez passos e entrei pela porta que antes ligava ao banheiro e não havia banheiro, nem pia nem água. Onde eu estava? Em que dimensão ela se escondera? Em que vão eu me perdera?<br /> <strong><span style="font-size:130%;color:#cc0000;"> S</span></strong>e ao menos ela tivese deixado um bilhete, um recibo de alguma viagem comprada ou só um recado seco indicando uma ida ao supermercado... Se ao menos ela tivesse deixado uma torneira aberta, uma panela no fogo, uma peça de roupa no varal... Se ao menos o telefone tocasse... Mas não, não encontrei bilhete, nem panela, nem recado, nem roupa no varal. O apartamento se equilibrava no vazio como uma teia de aranha capenga cheia de portas que não ligavam a nenhum lugar...<br /> <strong><span style="font-size:130%;color:#cc0000;">S</span></strong>e ao menos ela tivesse levado uma mala...<br /><div></div>O Fantasma de Chet Bakerhttp://www.blogger.com/profile/17456614767643282184noreply@blogger.com3