sábado, 25 de outubro de 2008

Dezessete Palmeiras, Rua Paissandu & um Rio Grande


Da praia,

dezessete palmeiras até minha casa.

Dezessete gigantes

a guardar passos e tropeções.

Na primeira esquina,

uma lanchonete, americana.

Do lado outro da rua,

um rolls-royce negro

estacionado em uniforme espera

de fumaça continental.

Quarenta e cinco passos adiante,

sapatos sem pés em vitrine

e frascos de remédios em prateleiras,

geometricamente posicionados

entre a marquise

e o buraco do suicida.

Depois do sinal, verde, é claro,

mais cento e cinco passos

e alguns sacolejos dos dedos

ao longo de grades enferrujadas.

Parada obrigatória na cerca de ficus.

Alguns assovios e depois fuga,

dos lacerdinhas.

Enfim, os últimos passos.

Dois bancos de mármore

num jardim art deco.

186 arfadas

mais nove degraus de um rio grande

que descia em tapete vermelho

para desaguar em elevador de madeira

com botões de marfim,

grade dourada e um poço escuro.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tubinhos, Traças & Chaves


Cadê meu velho armário?
Em quais cabides
se esconderam os tubinhos,
as kilts inglesas
e os conjuntos de cashemere?
Cadê os sapatinhos baixos,
cavados até o dedão?
Cadê as tardes de sábado
e vitrola suitcase
preparada para a festa?
Cadê a festa?Quem apagou a luz
e chamou o síndico?
Cadê Billie que não canta,
Chet que não sola,
João Gilberto que não namora
e Elvis que não rebola?
Em qual buraco se meteu
a dor trágica dos amores
sempre não correspondidos?
Em qual vácuo do ar
se dissipou o pinho silvestre
do cheiro dos meninos?
Cadê o coração que não dispara,
a voz que não defunta a garganta
e a boca que não molha?
Chaves trancaram o armário
e no centro do quarto vazio
um espelho em viuvez
reflete um bau de lembranças...
roídas pelas traças.
Obs: se você gostou, dá uma lida em meu livro O Feitiço da Lua, publicado pela Editora Bertrand. Aposto que você gostará.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sorvete, Jóias & Freud

Aos sábados, pela manhã, Nazair me levava para tomar sorvete na Colombo. Depois, empanzinada de caramelos, calda de morango, cobertura de chocolate, marshmellow coroado por rubra cereja, eu a seguia pelas vielas estreitas do centro da cidade num cortejo bizarro de experimentações de chapéus cujas plumas me provocavam espirros, vestidos negros de lantejouladas transparências, sapatos suspensos por agulhas que quase alcançavam o céu. A cidade era então um mistério acetinado, um enorme rolo de tecido prestes a rolar do balcão e cobrir a gigantesca Avenida Rio Branco, que por sua vez não era um rio nem era branca.
A peregrinação se aproximava da hora do a qualquer momento quando Nazair gentilmente, com a característica desplicência dos ricos de bolso e espírito, empurrava uma transparente porta de vidro decorada por floreados e letras douradas. Nessa hora meus olhos ardiam como se mirassem o sol, um sol travestido de diamantes, esmeraldas, trançados de fios de ouro e platina que lânguidamente penetravam pelos dedos, punhos, colo e orelhas de Nazair. Mesmo sem ter a mínima idéia do que era sexo, rotulei-o como uma porta de cristal aberta para lânguidíssimos movimentos de gemas. Sexo era isso e ponto final.
Alheia as minhas conjeturas eróticas, Nazair escolhia algumas jóias que ritualísticamente eram colocadas em caixas de couro negro estofadas com cetim. As jóias eram cadáveres de belas adormecidas em ataúdes escuros, à espera de um beijo. Morte e sexo se trançavam num mesmo nó, num instante de gozo e desfalecimento, numa porta que se abria para uma caixa que se fechava. E eu ainda nem tinha lido Freud...



Se você quiser conhecer um pouco mais de Nazair, dê uma lida em meu livro, Guadalupe e as Bruxas, publicado pela Editora Planeta.

Chet

Chet

Home Sweet Home

Home Sweet Home
Que buraco é esse que me faz comer a geladeira?

Livros & Livrarias

Livros & Livrarias
Livrarias são janelas. Livros olham o mundo.Livrarias libertam. Livros revolucionam.

Senhoras do Santíssimo Feminino

Senhoras do Santíssimo Feminino
O poder sagrado Delas.

A Pergunta de Lacan

A Pergunta de Lacan
O mistério do gozo das mulheres

Afrodite & Panelas

Afrodite & Panelas
E no princípio era a GULA...

A Casa

A Casa
O mundo olha pelas nossas janelas...

Um Lance de Dados

Um Lance de Dados
Jamais abolirá o acaso

O Caldeirão

O Caldeirão
Ele não está no final do arco-íris

Armário e Gavetas

Armário e Gavetas
O que será que eles revelam?

Minha Cozinha

Minha Cozinha
Onde tudo começou.

Meus Segredos

Meus Segredos
Laços e refogados culinários

Nossas Luas

Nossas Luas
E são treze...

Seduções & Devaneios

Seduções & Devaneios
Eu o escreveria mil vezes!

Guadalupe, a Santíssima Mestiça

Guadalupe, a Santíssima Mestiça
Como amei descrevê-la!

Amor e Cozinha

Amor e Cozinha
Foi uma delícia escrevê-lo!